Abaixo-Assinado (#40479):

MANIFESTO CIVILIZATÓRIO

Destinatário: caboclo1955@gmail.com

As gerações contemporâneas são herdeiras de um enorme esforço cidadão e cultural para retirar de Passo Fundo a marca negativa que a comparava a cidade de Chicago dominada pelos gangsters. Era um tempo em que sequer tinha o requinte expressado pelas máfias que dominavam o crime organizado e a violência norte-americana. Passo Fundo vinha de uma ocupação territorial violenta. Primeiro foram os bandeirantes que, no século XVII, estabeleceram uma feitoria na região para prear e escravizar índios guarani e kaingang, instalando uma rota de abastecimento às lavouras do Sudeste.
Depois, os sesmeiros privatizaram os territórios indígenas. A seguir, o Império criou reservas similares a “campos de concentração” para expropriar as terras dos povos originários, destinando-as à colonização. Tropas do Estado e companhias milicianas sanguinárias a serviço das colonizadoras particulares encarregaram-se do extermínio daqueles que se negavam a “concentrar”, ficar alocado sob a tutela do governo nos “toldos”.
Da fricção entre os povoadores europeus e os povos originários surgiu o primeiro gentílico luso-brasileiro na figura do caboclo. Sem trânsito no poder para escriturar suas posses, habitavam as terras devolutas, logo privatizadas por particulares e empresas.
O violentíssimo processo de disputa pelo território polarizou dois blocos principais de oposição fratricida, dividindo a população, colocando-a a cabresto. Barbárie, violência, expurgos e morte! Primeiro, entre as elites imperial e farroupilha; depois, pica-paus versus maragatos; castilhista e federalistas; chimangos, assisistas e libertadores etc. A este Rio Grande dividido entre as suas principais oligarquias, se aliaram as “elites” imigrantes. Degolas, assassinatos, extermínios de populações, espancamentos, cotidianos violentos.
No Planalto Médio o arrivismo sanguinário grassou no lugar da política. República só no nome... O relho, o trabuco, a faca, no lugar da filosofia, dos clássicos da política, do contrato social. A arrogância e o patrimonialismo do público substituindo espaços sociais comuneiros; a polícia a serviço do poder...
Entretanto, as representações civilizatórias foram gradativamente tendo importância. A imanência estúpida do passado - e as periódicas tentativas de recuos promovidas pelas forças reacionárias da barbárie - perdia força nas novas gerações. Aos poucos, apareceram os espaços de multiplicação da civilidade: conservatórios, faculdades, escolas, imprensa, universidade. Tais processos marcaram as gerações contemporâneas. Entre eles, a Jornada Nacional de Literatura deu para a cidade a energia da ressignificação simbólica. Junto com ela o Festival do Folclore, que recebeu expressões de diversos países, povos e etnias. Elevou-se mundialmente como lugar da sensibilidade, dos romances, poemas, contos, da dança, da música, das artes, contagiando grande parte da região. Os melhores cérebros de todos os continentes fizeram de Passo Fundo a sua casa. Milhares de educadores, artistas e escritores viram e viveram Passo Fundo como uma utopia realizável; um estimulante para ações similares mundo afora.
Esta era a imagem contemporânea de Passo Fundo até o dia 23 de março de 2018, quando forças retrógradas, autoritárias e fascistas, que estavam silenciosas desde a redemocratização do Brasil na aparente reconciliação nacional depois da triste ditadura militar, violadora dos direitos humanos. Bandos que afloraram novamente com o seu ódio e agressão física contra uma das representações políticas legalmente instituídas, com direito assegurado à manifestação. Chusmas que emboscaram a Caravana de Lula, agrediram a Constituição, colocam em risco a democracia e o processo civilizatório.
Que força é esta que descobriu o seu poncho obscurantista? Que cabresto é este que insiste em reconduzir a cidade para um passado que aparentemente havia superado? Que discurso é este que usurpa a voz dos passo-fundentes quando se apresenta como “o povo” e infesta os meios de comunicação, que nem sempre vão conferir a autenticidade desta fonte usurpadora, colaborando com a falcatrua midiática? O perverso discurso que inventa realidade!
Nós, cidadãos/cidadãs; nós, passo-fundenses em outras partes do mundo; nós, habitantes afetivos e temporários de Passo Fundo, indignados pela agressão realizada à natureza real e à imagem acolhedora, fraterna e de civilidade da cidade, em consequência dos atos de barbárie impetrados pela mobilização tipicamente gauchesca-fascista, objetivamente contra as leis do Brasil, que desrespeitou os direitos de livre manifestação, expressamos a nossa oposição e desejo concreto de luta em defesa de uma cidade (e uma nação) republicana, livre, igualitária e democrática.
Os arruaceiros, intolerantes, terroristas contumazes de táticas e constrangimentos fascistas, NÃO REPRESENTAM PASSO FUNDO!

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